
Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, Lucilene Ribeiro, trabalhadora de asseio e conservação, tem uma história especial a contar, de luta pelos direitos das mulheres, contra o assédio moral e o assédio sexual, por respeito, dignidade, isonomia de salários e direitos.
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Ela é filha e mãe de trabalhadoras da mesma área e integra a diretoria do Seeaconce, o sindicato da categoria no Ceará. Herdou da mãe, Maria Lúcia dos Anjos Ribeiro, que faleceu em 2021, aos 68 anos, tanto a profissão quanto o gosto pela luta pelos direitos trabalhistas e pelo respeito às mulheres. Está comemorando 25 anos de profissão e de atuação sindical, iniciada na Maternidade César Cals, da rede pública estadual, como profissional de “serviços gerais”. Habituada a se dedicar, a ser a primeira a chegar e a última a sair. Trabalhando para sustentar a família, com o suor de cada dia, deixando os espaços limpos e em condições de bem receber pacientes, técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, técnicos de radiologia, atendentes, secretárias, entre inúmeros outros personagens da rotina pesada de um hospital desse porte.
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Lucilene Ribeiro, 48 anos, é mãe de Joana Maria dos Anjos Ribeiro, 27 anos, integrante da categoria de asseio e conservação, filiada ao sindicato no dia 8 de março de 2022, tendo a própria mãe “abonando” a ficha de filiação. “Foi um dos dias mais emocionantes da minha vida, vendo a minha filha se filiar no Dia Internacional da Mulher e dar continuidade a essa história de luta, que vem desde a avó dela, minha mãe”, aponta Lucilene, sobre a filha que atua como trabalhadora de asseio no Centro de Formação Olímpica, equipamento do Governo do Estado. Lucilene também é mãe de João Vitor dos Anjos, 29 anos, também trabalhador de asseio e conservação, atuante no IJF, hospital de referência em Fortaleza.
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“Minha mãe, Maria Lúcia, trabalhou 27 anos na César Cals, e eu também comecei lá. Ela era mãe solteira, como eu também fui. Ela já era da categoria de asseio e conservação e já atuava forte na luta sindical, em uma época em que os atrasos de salário eram muito grandes, às vezes por três meses ou mais, e em que o desrespeito, o assédio era muito maior. Não havia vale-transporte, vale-alimentação, direitos que foram conquistadas depois, com o sindicato, as trabalhadoras”, recorda Lucilene.
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“Além do grande problema, que era a mulher apanhar em casa, do marido, e achar que precisava aguentar aquilo a vida inteira, porque não tinha sua independência financeira, porque não tinha a quem denunciar, não tinha rede de apoio com familiares, não tinha nem consciência de que não era obrigada a aguentar aquilo”, conta.
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“Desse tempo em que estou pra cá, melhorou muito! Tem muito ainda a corrigir, a mudar, temos ainda muito feminicídio. Mas as mulheres estão se conscientizando. As mulheres estão tendo mais coragem, de reagir, de não se calar, não se curvar. O que vejo no círculo de amizades que tenho, jovens da idade do meu filho, mesmo quem não denuncia, mas pelo menos se afasta do agressor. Trabalha e tem autonomia financeira pra sair de perto do agressor, organizar sua vida. E felizmente muitas já se sentem seguras para denunciar, sabem que precisam denunciar, para que ela e outras pessoas sejam protegidas”, avalia Lucilene Ribeiro.

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A luta contra o assédio moral às mulheres
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A trabalhadora e dirigente sindical avalia que atualmente um dos principais problemas, no dia a dia das trabalhadoras de asseio e conservação, é o assédio moral de mulheres em posição de chefia, contra outras mulheres, trabalhadoras terceirizadas. “Hoje o principal problema é o assédio moral. A maioria de quem assedia moralmente mulheres é também mulher. Como diretoras ou coordenadoras que ficam tentando se desfazer de outras mulheres, terceirizadas. Não tentam evoluir”, aponta, reforçando que o sindicato está atento a essas situações, no dia a dia, defendendo as trabalhadoras.
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Lucilene atua no sindicato Seeaconce desde 2003, quando foi convidada por Liduina e Ednardo, presidente da entidade à época e já falecido. “Foi um reconhecimento à trajetória da minha mãe na luta sindical. O que mais me orgulhou de estar no sindicato é que minha mãe tinha essa visão, de que os trabalhadores só conseguem alguma coisa através do sindicato. Ela me acompanhava em todos os atos, e tinha o maior orgulho de dizer que a filha dela era integrante do sindicato”, rememora, emocionando-se. “Eu era tímida, pra falar no microfone, falar com as trabalhadoras, os trabalhadores. Ela me incentivava e dizia pra ir lá e falar, que precisava defender os direitos daquelas pessoas, falar com elas”.
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Filha levando adiante a luta
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Joana Maria Ribeiro, filha de Lucilene, conta que se lembra como se fosse hoje do dia de sua filiação ao Seeaconce. “Foi um momento emocionante e marcante pra mim, pra minha mãe, né? A gente estava comemorando o Dia Internacional da Mulher. E também por eu ter me filiado do sindicato, ao lado dela”, recorda. “Se for pra falar de uma mulher forte, a primeira pessoa que vem no pensamento é ela e a minha avó. Que hoje a minha avó não se encontra mais com a gente, mas que sempre foi uma mulher de respeito, uma mulher de exemplo, uma mulher de força e coragem. E isso eu vou levar pra vida, a minha avozinha e a minha mãe. Me sinto muito privilegiada por ser filha e neta de mulheres de luta em prol das trabalhadoras e dos trabalhadores”.
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Para a jovem trabalhadora, houve avanços na luta em prol dos direitos das mulheres, com muita batalha para serem conquistados. “Acho que, apesar dos avanços significativos, as mulheres ainda enfrentam um pouco de desafios, e são persistentes, né? Mas eu já vi muito avanço já sobre questão disso, porque hoje em dia as mulheres não ficam paradas não, viu? As mulheres correm atrás mesmo, é força, é atrás do direito, é atrás do seu trabalho, atrás de igualdade”, avalia.
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“Os jovens também avançaram nessa luta. Antigamente, a gente era meio que desatento a questões como direitos, machismo, igualdade, essas coisas do tipo, né? Muitos não queriam saber desses assuntos. Mas a partir do momento em que você tem um espelho em casa, que eu tenho a minha mãe como espelho, você começa a ver. A luta, a procura de igualdade, a luta contra o machismo é uma bandeira que une várias gerações. Pode ser novo, velho, mulher, homem, eu acho que junta tudo. E eu acho que a juventude deu um avanço sobre isso, hoje em dia. A gente vê mais jovens correndo atrás de igualdade, correndo atrás dos seus direitos”, ressalta Joana Maria.
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“Quero parabenizar todas as mulheres do mundo. A gente merece muito, muito mesmo. Vamos seguir, com força, coragem e persistência””.
